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Elas pedem socorro: cada vez mais mulheres têm denunciado violência doméstica em MG e no Brasil

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Dados do Anuário Brasileiro de Segurança apontam aumento de casos em todos os tipos de agressão

Por Anderson Rocha

Fátima falou com O Tempo na delegacia onde foi fazer denúncia contra o exFoto: Fred Magno/ O Tempo

O olhar aflito e a voz fragilizada refletiam a angústia de Fátima*, de 45 anos, ao entrar na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, no centro de Contagem, na região metropolitana de BH. Às 14h do último dia 8 de julho, ela faltou ao trabalho para, pela terceira vez desde 2020, pedir socorro. Nas mãos, a cuidadora de idosos carregava papéis do caso e um celular, que armazenava áudios enviados pelo ex-companheiro com ameaças de morte.

“Eu deixei ele em 2017, após anos de chutes, puxões de cabelo e humilhações dentro de casa. Nesse período, ele já ficou preso por cinco meses e usou tornozeleira eletrônica por dois anos, mas voltou a me procurar. Ele diz, com firmeza, que vai me matar, na frente dos nossos dois filhos. Vivo à base de remédios”, desabafou.

Naquele dia, em que a reportagem de O Tempo passou quatro horas na delegacia, Fátima foi a primeira de quatro vítimas de violência a procurar ajuda. E a história da cuidadora é o retrato do atual cenário da violência doméstica, que tem feito cada vez mais vítimas em Minas Gerais e no Brasil.

\\”Ele foi um bom marido no início, mas sempre bebeu. Em 2015, o consumo piorou. Ele começou a me bater. Tive medo de não conseguir sustentar nossos dois filhos, mas tive que sair de casa porque entrei em depressão profunda.” Fátima, 45 anos, cuidadora de idosos

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados no último dia 18 mostram que os casos de lesão corporal, ameaça, violência psicológica e perseguição tiveram aumento entre 2022 e 2023, período do levantamento, que tem como base os registros das Secretarias de Segurança Pública dos Estados. Os números mostram que 24 mil mineiras sofreram lesão corporal em 2023, 9% a mais do que no ano anterior, quando foram denunciados 22.014 casos. No país, os registros subiram de 235.915 para 258.941 (9,8%). As ocorrências de violência psicológica também cresceram, passando de 1.678, em 2022, para 2.341 no ano seguinte, elevação de 39,5%, em Minas, e de 28.771 para 38.507, alta de 33,8%, no Brasil.

“A gente vê um aumento da violência dentro de casa. Isso se explica porque vivemos em um país que ainda pauta suas relações sociais em valores muito calcados no machismo estrutural e no patriarcado”, afirmou Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

“A violência de gênero na nossa sociedade é um problema estrutural, que está enraizado em normas, em valores, em praticamente todas as instituições da nossa sociedade. Quando a gente pensa no que precisa ser feito para diminuir esses números, o primeiro passo é ter um diagnóstico, e o anuário contribui muito nisso. Quando esses dados revelam padrões, como quem é a vítima, cor da pele, quem é o agressor, é possível que as autoridades e os gestores direcionem recursos e pessoal para ações específicas de prevenção”, completou Isabella Matosinhos, pesquisadora do FBSP e responsável pelo anuário.

* Nome fictício para preservar a vítima

Dobram pedidos de socorro à PM

As ligações para o 190 com pedidos de socorro explodiram em Minas Gerais, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Por dia, pelo menos 189 mulheres solicitaram ajuda às autoridades em 2023. Foram 69.259 chamados, 117% a mais do que no ano anterior, com 31.908 ligações.

Para a subcomandante da 1ª Cia. Independente de Prevenção à Violência Doméstica da Polícia Militar de Minas Gerais, Rayanne Rocha, é difícil explicar com uma única razão o motivo do crescimento: se é porque o número de crimes realmente aumentou ou se as mulheres estão mais conscientes da importância de denunciar.

“Nós acreditamos que, sim, há um maior acesso à informação por parte das vítimas. A mulher está mais consciente de que, à medida que denuncia, os órgãos de segurança chegam até ela, e isso quebra o ciclo da violência e impede, por exemplo, casos de reincidência”, explica Rayanne, ressaltando que a PM faz anualmente campanhas de conscientização.

A psicóloga Roberta Rodrigues, investigadora da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, reforça a linha de que as mulheres estão mais seguras para denunciar. “A gente está falando mais, as vítimas estão reconhecendo mais a dinâmica de violência e denunciando, o que faz os números crescerem. Os registros contribuem para a formulação de políticas públicas, que vão coibir novas agressões”, analisa.

Na delegacia. Além de Fátima, outras três vítimas estiveram na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em Contagem. Uma delas, de 25 anos, preferiu não falar com a reportagem, mas fez a denúncia contra seu agressor. Outras duas foram orientadas a procurar uma delegacia comum, pois os casos não se enquadravam na Lei Maria da Penha.

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