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Especialista defende importância de ócio e lazer para crianças durante as férias

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Psicóloga Ana Luísa Bolívar alerta para perigos relacionados ao excesso de atividades extracurriculares e cita o filme “Divertida Mente 2”

Por Raphael Vidigal Aroeira

Viralizou na internet o vídeo de uma mãe que deixou a filha, uma criança de aproximadamente 3 anos, “descascar um ovo cozido no tempo dela”, relembra a psicóloga Ana Luísa Bolívar, especializada em crianças e adolescentes. “Demorou horrores? Demorou. Mas era o tempo da criança”, pontua a especialista.

O exemplo vem para ilustrar a necessidade de permitir às crianças vivenciarem o lazer e o ócio numa época em que muitos pais ficam literalmente loucos na determinação de arrumarem incontáveis atividades para seus filhos: as famigeradas férias escolares. Colônia de férias, aula de natação, musicalização infantil e viagens costumam ocupar o topo dessa lista em que o excesso de estímulos é a norma e não há tempo para perder.

O agente de segurança Bruno Nunes, 35, pai de duas meninas, conta que são as filhas que não o deixam descansar. “Elas são muito agitadas, e sempre pedem algo”, declara. No entanto, Ana Luísa pondera que é essencial “desenvolver certas habilidades nesse tempo que não tem estímulo, não há um prazo para ser entregue”.

“O tempo livre da criança tem que ser da criança. Ela vai fazer sujeira? Provavelmente. Vai fazer bagunça? Com toda certeza. Mas é a fase em que ela está. Cabe aos pais e educadores terem uma certa paciência”, sustenta. Ana Luísa diferencia os conceitos de ócio, tédio e lazer, e diz que “cada um tem sua importância para o desenvolvimento da criança”. “O ócio é fruto das horas vagas, do descanso, é a nossa tranquilidade”, avalia.

Segundo ela, “algumas pessoas que cercam o mundo infantil confundem o ócio com preguiça”. Em relação ao tédio, ela recorre ao filme “Divertida Mente 2”, sucesso de bilheteria, para defini-lo como “um estado emocional, um sentimento com o qual muitas pessoas não conseguem lidar e que as incomoda profundamente”.

“Eu acredito que, em vista da nossa sociedade, focada na produtividade incessante, o tédio tem um viés cultural”, salienta. O fato de várias crianças e adolescentes estarem inseridas em atividades extracurriculares seria a prova dessa tese. Já a ideia de lazer teria surgido no embalo da Revolução Industrial. “Antigamente, não existia esse tempo de não trabalho. O lazer foi aprendido como um divertimento para nosso tempo livre”, enfatiza.

Menos estímulos e mais tempo livre

A expressão chave para Ana Luísa é “menos estímulos”. “A gente recebe estímulos 24 horas por dia, pelo celular, pela internet, pelas notícias, pelas mídias de uma maneira geral, por tudo que nos cerca. Esse tempo de ócio criativo, como as pessoas dizem, é fundamental para as crianças e adolescentes desenvolverem habilidades socioemocionais e conseguirem ter uma melhor percepção de si mesmos”, defende a psicóloga.

Outro ponto seria abrir mão do “direcionamento”. Ou seja, dentro de limites estabelecidos e inerentes à idade, permitir à criança um espaço livre para criar, sonhar, inventar, sem as distrações de atividades com objetivos. Ana Luísa oferece como dicas “passeios em parques, exposições, livros que a criança queira ler”, entendendo que cada criança é uma, conhecendo as suas particularidades.

Em relação à tecnologia, o ideal, para as crianças, é “evitar o uso de telas”. “A gente sabe que a tecnologia impacta e precisamos aprender a conviver com ela. Não precisamos olhá-la como inimiga, mas a gente já sabe, através de vários estudos, que o uso excessivo de telas afeta o sono e toda nossa regulação emocional, em diferentes níveis”, afiança a especialista.

A explosão de sons, cores e informações aliada à alta velocidade pode gerar “quadros de ansiedade, frustração e até pânico”, diz Ana Luísa. A artista plástica Karin Stofel, 33, mantém a filha “o mais longe possível” da tecnologia. “Gostamos que ela tenha contato com a terra, com a natureza, ela adora ficar vendo os bichinhos”, garante Karin. A fala está de acordo com o pensamento de Ana Luísa, que ressalta “as possibilidades de aprendizagem da infância”.

“As crianças são criativas por si só, elas aprendem de forma muito mais lúdica. Nós, adultos, sociedade, instituições, é que enquadramos as crianças com regras, direcionamentos e tudo mais”, sublinha a psicóloga, que elogia pais e educadores que “permitem às crianças criarem os seus próprios brinquedos”. “Isso é maravilhoso, porque quando a gente vem com um brinquedo pronto, é um entrave à imaginação fértil da criança. Todo mundo nasce sem conceito do que é brinquedo, do que não é, e a criança ainda tem essa liberdade”, diz.

Criança não é mera extensão dos pais

A psicóloga Ana Luísa Bolívar adverte que é preciso ter em mente que “a criança não é uma extensão dos pais em relação a desejos e gostos”. “É importante ouvir a criança, acolher os sentimentos e entender que ela tem vontade própria”, sublinha. Durante a pandemia de Covid-19, ela ouviu de uma amiga um caso que a marcou, quando a filha, de apenas 4 anos, repetia sem parar: “Ai que tédio, mamãe”.

Na opinião de Ana Luísa, o relato é precioso no sentido de compreender que “as crianças sabem identificar os próprios sentimentos”, o que pode estar relacionado a produções que abordam o tema, como “Divertida Mente”. “Deixa a criança sentir tédio. É importante também, para o desenvolvimento, aprender a lidar com emoções incômodas. Temos que diminuir o excesso de atividades extracurriculares e entrar em contato com o ócio, o lazer e o tédio”, advoga a psicóloga.

Ciente tanto da questão cultural quanto da diversidade das famílias, Ana Luísa considera que o ideal é permitir aos pequenos esse tempo livre, muitas vezes gratuito, podendo ocorrer tanto dentro de casa quanto com passeios ao ar livre, em museus.

“A criatividade é abrangente, a criança pode aprender desenhando, ouvindo música, dançando. O universo infantil é muito relevante. Músicas infantis, desenhos para a criança assistir ou desenhar, livros de histórias, brinquedos”, enumera Ana Luísa, impulsionando as crianças no trampolim de “sua própria subjetividade e personalidade”.

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