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Aniversário do 7×1: Um ano vivendo sob os destroços

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De positivo daquela tarde amargamente histórica, restou apenas um aspecto: passamos a nos importar mais com a seleção brasileira. Mesmo entre os que há tempos já haviam se desiludido, impera a cobrança, ainda que em forma de corneta, o que é sempre positivo. Afinal, estava se encerrando uma era iniciada em 1950, um recorte histórico que, qual um filme de Martin Scorsese, guarda todas as reviravoltas típicas das maiores ascensões que antecedem as mais doloridas quedas. Um ciclo que começou em Ghiggia terminava no melancólico segundo tempo daquele jogo do Mineirão. O problema é que ainda não sabemos que rumo tomar neste cenário pós-apocalipse. Em Touro Indomável, o boxeador Jake LaMotta, gordo e humilhado, vivendo de shows miseráveis em boates decadentes, arrebenta seu cinturão para vendê-lo por uns trocados. Mas nem uma casa de PENHOR podemos procurar, já que faz 30 anos que a Jules Rimet deve ter sido transformada em dentes de ouro.

Tantas vezes já foi dito, mas o Maracanazo acentuou a descrença brasileira em si mesmo, comportamento imortalizado no “complexo de vira-latas” exposto por Nelson Rodrigues, que era disseminado na imprensa daqueles anos. Fato é que naquela época a tragédia trouxe ensinamentos importantes. Para 1958, por exemplo, o Brasil teve sua melhor preparação em Copas até então: uma comissão andou pela Suécia com meses de antecedência para escolher hotéis, uma equipe multidisciplinar viajou com a delegação, que respeitava rígidas normas disciplinares. Eram medidas inéditas e revolucionárias. E vencer aquela Copa do Mundo foi o estopim para o período de glória de seleção, este período que nos recusamos a admitir que acabou.

Tentava-se cobrir as rachaduras com massa corrida, mas eis que um dia a casa caiu. Há um ano, a contusão de Neymar era o ALVARÁ para a derrota – comissão, jogadores e dirigentes estavam absolvidos. Depois que o atacante se lesionou, tudo era permitido ao Brasil, exceto o que de fato aconteceu. E, analisando por este viés, nada melhor poderia ter acontecido. Assim, nossa decadência ficou exposta aos holofotes do mundo inteiro, uma chaga hiperdocumentada, qual um palhaço decadente no centro do picadeiro, a maquiagem derretendo pelo calor dos flashes.

Encerrava-se, assim, uma epopeia de 64 anos, iniciada quando um derrotado Brasil começou a se preparar para vencer sua primeira Copa do Mundo. Um cenário de terra arrasada sempre traz consigo uma oportunidade de renascimento, mas o problema é que um ano depois ainda não sabemos o que fazer com o saldo deste ciclo que se fecha. A casa caiu, mas em vez de começar a reerguê-la tijolo por tijolo estamos tentando sobreviver nos arrastando em meio aos escombros. O perigo maior é justamente se acostumar a viver debaixo dos destroços.

Fonte: Globo Esporte

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